Fico intrigada com certas palavras no Evangelho. Elas estão lá. Até na versão da Católica. Nem me dou ao trabalho de conferir em mais outras versões.
Mas esse advérbio me segurou a semana toda, se juntou a outro adjetivo e bagunçou a minha ordem.
Daí, me lembro das relativizações que a gente aprendeu a fazer: não, são os meus impulsos, (coitados!) são os instintos (que o próprio Deus nos deu), são nossas carências que a gente tem que suprir.
Mas o texto continua lá: “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só,porque eu faço SEMPRE o que lhe agrada.” João 8:29 Como assim? Sempre? Não será muito forte esse advérbio? Porque sempre é...SEMPRE.
Absolutamente tudo isso? Jesus fazia sempre somente aquilo que agradasse ao Pai? Sem nem um mínimo de relativização diante da sua humanidade? Mas então é ABSOLUTO? E as carências dele? Seus impulsos? Necessidades?
Essas perguntas são nossas hoje. Ainda não nos convencemos de que somos enganados o tempo todo pelo nosso autoengano a quem acostumamos a satisfazer em tudo que exige. É como a criança mal educada que dá birra quando ouve um “não”. É o “Si Mesmo” que não quer se submeter. E nós pensando que são.....assim....tipo assim... “nossas carências”. Cantamos canção de ninar todo dia para as nossas necessidades ( também foram dadas por Deus) e os nossos instintos ( puxa!! Eles existem,sim. É da natureza) e damos a eles o melhor do nosso tempo. E o “Si Mesmo” gosta...se regala... cresce... e a máscara só se fixa em nós; e pensamos que o que aprendemos é que na Graça tudo pode.... e a ficha não cai.... continuamos no fluxo do que Jesus chamou de “o mundo e suas concupiscências”.
Mas o SEMPRE continua aqui.... e depois vem o adjetivo: “a fim de viverdes de modo DIGNO” Cl. 1:10 ( parte da mensagem de domingo passado ) . Esse é fácil. Aprendemos direitinho a viver de modo digno. É apresentando pra Deus todas as obras das nossas mãos. Todas elas. E o quanto somos bons. Já vamos a todas as reuniões e nosso dízimo tá sempre lá.( isso é o de menos!!) É algo como trapos sujos que aprendemos a chamar de coisa limpa....que usamos para nos limpar...
Como juntar os dois? SEMPRE e DIGNO?
Viver de modo digno.... viver lembrando-se de que o Cordeiro imolado antes da fundação do mundo é quem me dá roupas dignas. Nenhuma outra confissão dos meus lábios me veste assim dessa forma que agrada a Deus.... e vestir essa roupa todo dia me faz ver que sou pecadora. Sempre. Ver minha pequenez. Ver o grande amor que me é oferecido desde antes da fundação do mundo. Ver que esse amor é maior que as carências, que os instintos e os impulsos. É comer essa comida todo dia. É mergulhar nessa água fresca e beber tudo que a alma quiser. É se empanturrar dessa Verdade. E daí, chega o Espírito suavemente dando-me consciência do que Ele quer fazer em mim,assoprando a Verdade que é e que só fará bem e me dará forças para agradá-lo SEMPRE.
É rotina que se requer em nós. Vivificada pela presença desse Espírito da Verdade que vai revelar toda a minha mentira em acreditar que as carências/necessidades/impulsos/urgências devem ditar a rotina ou a ordem. É coração aberto e consciente para ruminar toda a Verdade e Justiça daquele que SEMPRE é o mesmo.
Não agüento mais os trapos em que a gente se deixa embrulhar... e como nós os defendemos!! Nós os agasalhamos mesmo quando eles mentem pra nós. Acreditamos fácil demais nas mentiras dos nossos sentidos cheios de reticências em relação ao que É..e não os colocamos sob a Luz.
Posso ouvir Jesus dizendo que quem quiser ir sepultar o pai,que vá. Que quem quiser ir ver as juntas de bois, pode ir. Que quem quiser ir ver o campo que comprou, também pode ir. Radical? SEMPRE. Relativo? Nunca. Quer negociar isso com Deus? Tenho certeza de que não está aberto a negociações. No entanto, Jesus diz “O Pai me ama,porque eu dou a minha vida para a reassumir.Ninguém a tira de mim, pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la.” (João 10:17 e 18) Penso que para Jesus havia negociação aberta. Graças a Deus que Jesus não voltou atrás e nem convocou os exércitos disponíveis a ele (MT. 26:53) porque ele ainda vivia dentro do SEMPRE. Agradar o Pai era a grande riqueza e satisfação da alma de Jesus. Nada trocado por isso valeria a pena.
Sim. Estou começando a vislumbrar a radicalidade do chamado. Sem negociatas. Carências: devem ficar do tamanho que elas têm. Nem mais nem menos. Quando as colocamos assim, e definimos os seus limites, elas obedecem (igualzinho à criança mimada que se assusta,no primeiro momento,com a autoridade assumida pelos pais ,mas que,com o tempo, aprende, reconhece o ser amada naqueles limites).
Crescer na consciência do Evangelho exige trabalho de exercitar mente,emoções na Verdade. Fácil? Não, não é questão de ser fácil ou difícil, é questão de decidir.
Quer mais alguma coisa de brinde? SIM. Tem. O Espírito da Verdade começa a trazer o consolo da nossa renúncia às mentiras e do valor do apego à Verdade, a mostrar o tamanho de cada coisa e a nos convencer do tanto que somos amados.
É só crer pra valer nisso. Imitar Jesus e viver pra agradar o Pai: SEMPRE. De modo DIGNO sempre por causa do cancelamento da dívida de uma vez por todas (Cl. 2:14), pela Graça e Amor concedidos gratuitamente antes da fundação do mundo, NUNCA pela minha justiça própria.
Resultado: experimentar o que é viver no Reino do Filho do seu amor, frutificar em toda boa obra e crescer conhecendo Deus do modo que Ele É.
É isso. Não tenho perguntas a fazer. Tá tudo bem.
Bjus pro cês.
Dora Ramos
www.corte.com.br/dora
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